sexta-feira, 16 de março de 2007

Escrito num muro de Lisboa

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Em trânsito por Lisboa. Barrada num providencial sinal vermelho. Para bater de frente com qualquer coisa que fica entre o garante e a evidência: não, afinal não somos todos iguais. Finalmente, não somos.
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Entre todos sobram alguns. Alguns poucos bastantes. Para nos remediar desses tantos todos, que são muitos e são tantos, e são tão pouco nos muitos que todos são.
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45 segundos de atraso para seguir de alma mais descansada: os muros de Lisboa ainda falam e as paredes ainda se confessam.
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E está tudo certo, então. As calçadas ainda dão pelo nome e a cidade ainda pertence aos que rasgam o peito na rua. Só por isso já terá valido a pena. O atraso, o sinal fechado no vermelho, Lisboa e mais os 45 segundos. Posso seguir mais tranquila e menos só: bati de frente com o rasto dos que ainda cospem amor e, espichando o amor assim escarrado - com o igual despudor dos loucos e a mesma arrogância dos amantes - fazem a cidade sua, por se tornarem mais carne e menos gesso, menos sombras e mais poetas. Quase artistas, quase donos, não sei se da obra assinada a tinta, ou se da sua obra ser só, em bom rigor, a obra de não ser obra nenhuma.
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E está tudo certo, então. Afinal as paredes falam, as esquinas cospem espichos de amor escarrados e Lisboa ainda é dos que ficam nús contra o tijolo.
A crú. Como os muros da cidade.